Dra. Marcela Scarpa

Você acha seu nariz grande? Confira o motivo explicado pela ciência

Você Acha Seu Nariz Grande? Confira o Motivo Explicado Pela Ciência

O conteúdo descrito abaixo não tem como objetivo substituir a consulta médica, tem caráter informativo destinado aos indivíduos que tenham algum interesse em Cirurgia Plástica. Procure sempre um Cirurgião Plástico habilitado e devidamente registrado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (http://www.cirurgiaplastica.org.br) e no Conselho Regional de Medicina de seu Estado (CRM).

A rinoplastia é uma das cirurgias plásticas mais populares entre os brasileiros, sendo realizadas mais de 200.000 ao ano no país. Mas você sabe o que define o perfil facial de uma pessoa?

Herança genética

As pessoas apresentam uma grande diversidade de perfis faciais, sendo atribuídas, muitas vezes, às adaptações ao meio ambiente. Os narizes geralmente acompanham características étnicas específicas de cada população. Porém, a miscigenação atual impede a previsibilidade dessas atribuições.

Um trabalho científico, publicado em 2019, realizado por um grupo de pesquisadores de diversos países avaliou as origens de cada característica facial.

O estudo analisou a fotografia de 6275 pessoas da América Latina (região escolhida justamente por sua diversidade étnica). Partiram, então, dessas fotos para criar modelos de computador em 3D, que pudessem ser estudados nos mínimos detalhes. Eles dividiram, então, a face em 14 características como (Figura 1.):

  • relacionadas ao terço inferior da face: formato e projeção do queixo,  espessura dos lábios
  • relacionadas ao terço médio da face:  projeção malar (das bochechas)
  • relacionadas ao nariz: largura do dorso, ponte e asas, inclinação da columela, projeção, perfil e formato da ponta
  • relacionadas ao terço superior da face: projeção do supercílio e perfil da fronte (testa).

            A conclusão que chegaram foi a de que muitas das características avaliadas possuem correlação direta com idade, sexo, índice de massa corpórea (IMC) e características genéticas, descritas a seguir:

  • observou-se forte correlação entre as características do terço superior da face com o sexo dos participantes;
  • a idade interferiu diretamente na espessura dos lábios, enquanto a maior correlação do IMC foi com a projeção do supercílio
  • a genética tem relação com espessura dos lábios (por exemplo, a descendência europeia apresentando correlação negativa, ou seja, lábios mais finos; essa ascendência também esteve associada à maior projeção do nariz).

Já relacionado ao estudo genético, o trabalho descreve que dois genes (GLI3 e PAX1) são os principais responsáveis pela largura das narinas. Já o gene RUNX2 determina a largura do nariz (base nasal). O gene DCHS2 é o responsável pela projeção do nariz e pelo ângulo columelo-labial (o quanto ele é “arrebitado”). Quanto à projeção do mento (queixo), o gene EDAR foi o de maior importância. Este último também está envolvido no formato da orelha e nos pêlos: grossura da barba e tipo de cabelo (liso ou ondulado)

Com isso, eles conseguiram comprovar as diversidades e origens de cada população, permitindo maior entendimento da evolução de nossas características faciais.

Ancestralidade e processo adaptativo populacional

Outro trabalho científico, realizado em 2017, pela Universidade de Illinois e Universidade da Pensilvânia (EUA), e publicado no PLOS Genetics, avaliou que os diferentes formatos nasais não são apenas resultados isolados do curso genético populacional, mas também das adaptações climáticas.

Segundo Mark D. Shiver, um dos autores do estudo e professor de antropologia e geneticista da Universidade Estadual da Pensilvânia, “narizes longos e finos apareceram em áreas secas e frias, enquanto narizes curtos e largos ocorreram em áreas quentes e úmidas. Muitas pessoas testaram a questão com medidas do crânio, mas ninguém tinha feito medições em pessoas vivas”.

Assim, o formato nasal é bem variável entre os indivíduos, porém, seguem um padrão mais ou menos definido. Por exemplo, as asas nasais são significantemente mais largas na população africana e asiática, quando comparada à europeia.

A função primária do nariz é de aquecer o ar inspirado à temperatura corpórea e umedecê-lo antes de atingir o trato respiratório. Devido essa função, os pesquisadores interrogaram se os diferentes formatos nasais das populações não ocorreram por adaptações climáticas ao longo da evolução.

Para testar se essa adaptação seria responsável pelo formato do nariz humano, os pesquisadores analisaram, através de imagens 3D, as medidas de cento e quarenta mulheres nativas de quatro regiões do globo: oeste africano, leste e sul asiáticos e norte europeu, correlacionando-as com:

  • temperatura média anual do país
  • umidade relativa
  • umidade absoluta

Como resultado, a largura da base das narinas estiveram fortemente correlacionadas com temperatura e umidade relativa da região. Isso indica que indivíduos de ascendência de climas quentes tendem a ter base nasais mais largas. Em contrapartidas, povoados descendentes de regiões frias e secas possuem, em sua maioria, narizes mais estreitos. Já a umidade relativa não teve importância no estudo.

O resultado corrobora com a comprovação da fisiologia da respiração e teoria adaptativa ao longo da história, já que, em climas mais frios e secos, narizes mais estreitos permitem um maior turbilhonamento de ar e, por consequência, um aquecimento e umidificação mais efetivos. O resultado está de acordo com uma velha teoria chamada de “Regra de Thompson”, proposta pela primeira vez pelo anatomista Arthur Thompson, no ano de 1800.

Os pesquisadores perceberam também que o tamanho das narinas não tinha uma variação significante na população, sendo apenas o formato (largura) relevante durante a evolução populacional.

Outros fatores, porém, podem também influenciar o formato nasal, como a seleção sexual e as diferenças nas preferências culturais na escolha do parceiro, contribuindo também para as diferenças regionais.

            Você sabia desses fatores e sua interferência no seu tipo facial?

Já falei sobre as proporções faciais em uma matéria anterior, se quiser relembrar clique aqui

            Falei também sobre os diferentes tipos nasais em outra matéria, se quiser relembrar, clique aqui

Fontes:

1) Adhikari K, et al. A genome-wide association scan implicates DCHS2, RUNX2, GLI3, PAX1 and EDAR in human facial variation. Nat Commun. 2016 May 19;7:11616. 
2) Zaidi AA, Mattern BC, Claes P, McEvoy B, Hughes C, Shriver MD. Investigating the Case of Human Nose Shape and Climate Adaptation. PLoS Genet. 2017 Mar 16;13(3):e1006616.

Este texto é de autoria da Dra. Marcela Benetti Scarpa e toda e qualquer forma de reprodução e/ou veiculação somente será permitida mediante prévia autorização por escrito e com indicação de fonte, do contrário, poderá consistir em violação de direitos autorais, conforme a Lei 9.610/98, passível da adoção das medidas cíveis e criminais pertinentes. Para mais informações, acessem nossa Política de Proteção aos Direitos Autorais.

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