Dra. Marcela Scarpa

O QUE É A SÍNDROME ASIA OU DOENÇA DO SILICONE?

O Que é a Síndrome Asia ou Doença do Silicone?

O conteúdo descrito abaixo não tem como objetivo substituir a consulta médica, tem caráter informativo destinado aos indivíduos que tenham algum interesse em Cirurgia Plástica. Procure sempre um Cirurgião Plástico habilitado e devidamente registrado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (http://www.cirurgiaplastica.org.br) e no Conselho Regional de Medicina de seu Estado (CRM).

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) divulgou uma nota, em 11 de janeiro, que a busca pela retirada da prótese de mama está em ascensão, seja por mudança da qualidade de vida ou por manifestações sistêmicas (em todo o corpo) atribuídas ao implante.

ASIA vem do inglês Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants, ou Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes, em tradução livre.

Descrita primeiramente em 2011 pelo médico israelense Yehuda Shoenfeld, a síndrome engloba doenças autoimunes, e com sintomas semelhantes, desencadeadas pela presença de corpos estranhos e outros tipos de substâncias exógenas ao organismo.

O nome Doença do Silicone não é adequado por dois motivos: primeiro, pois as manifestações (completamente distintas da ASIA) causadas por injeções clandestinas inadvertidas de silicone industrial também podem ser enquadradas neste nome. Segundo, porque ASIA não está relacionada somente à prótese de silicone. Adjuvantes, referidos na abreviação, podem estar relacionados não somente ao silicone, mas também por hidróxido de alumínio (na síndrome da miofasceíte macrofágica e fenômenos pós vacinação), esqualeno (na síndrome da Guerra do Golfo), iodo, mercúrio, óleo mineral e titânio.

Pacientes com maior chance de desenvolver esta condição são aqueles  com antecedente pessoal ou familiar de doenças reumatológicas, alérgicos e com deficiência de vitamina D. Está relacionada a uma reação individual à colocação de um corpo estranho no organismo.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito por um médico reumatologista e baseia-se essencialmente no exame físico e histórico da paciente. Não há exames específicos que permitam sua descoberta, mas a presença de alguns marcadores sanguíneos, apesar de não obrigatoriamente presentes, podem ajudar na determinação de sua origem.

Os sintomas mais comuns da ASIA são dores articulares, dores musculares, fadiga e alterações neurológicas. Porém, pode também cursar com alterações cognitivas, depressão, perda de memória, febre, boca seca, síndrome do cólon irritável ou mesmo aparecimento de uma quadro autoimune específico (como esclerose múltipla, artrite reumatóide, lúpus, etc.).

Seu desenvolvimento pode ocorrer em qualquer momento após a colocação do implante, mesmo em período muito tardio, e também com a prótese íntegra.

Uma observação MUITO IMPORTANTE  é que que devemos ter EXTREMA CAUTELA com esta hipótese diagnóstica, já que os sintomas supracitados são inespecíficos, e podem estar relacionados a diversos fatores além do implante. Seu diagnóstico é de EXCLUSÃO (ou seja, feito após afastar todas as causas mais comuns relacionadas ao quadro clínico em questão). Ainda não há dados científicos concretos que permitam atribuir uma relação direta da ASIA com essas manifestações relatadas pelas pacientes. No entanto, muitas referem melhora ou remissão das queixas após o explante. Em entrevista à Revista Veja dessa semana, o presidente da SBCP afirmou que “é importante ouvir e acolher as queixas das pacientes, e também apresentar opções seguras e éticas, baseadas em evidências, para aquelas que desejam explantes pela (hipótese da) Doença do Silicone”.

Como é feito o tratamento?

O tratamento pode ser feito com medicações. Porém, é de difícil controle com tratamento medicamentoso exclusivo e geralmente evolui para remoção da prótese – mas claro que somente depois de afastados todos os outros diagnósticos possíveis.

A cirurgia de explante é relativamente simples e pode ser realizada pela mesma cicatriz de sua colocação. Muitas pacientes optam pela lipoenxertia (colocação de gordura) no mesmo tempo cirúrgico, para melhorar o volume perdido com a retirada. Essa injeção de células de gordura da própria paciente melhora o contorno, com um aspecto natural (a lipoenxertia nunca fornece o resultado estético, em volume e projeção, como a prótese de silicone).

Não existem técnicas específicas para realização do explante. Já a capsulectomia (retirada da cápsula envoltória) pode ser realizada sempre, sem risco adicional ao procedimento. Não há evidência científica da necessidade da remoção da cápsula em bloco (junto com a prótese), necessária e recomendada para casos de malignidade. Porém, também não há contraindicação para essa técnica cirúrgica.

Nos casos de próteses maiores, associados à flacidez cutânea, uma mastopexia pode ser necessária, para melhor modelagem. Nessa situação, a cicatriz deve ser ampliada de acordo com a cirurgia proposta.

Os sintomas irão sumir após o explante em bloco?

Um número considerável de pacientes apresenta remissão (resolução) completa dos sintomas após o tratamento cirúrgico (o período de melhora também é variável). Porém, um percentual de mulheres não percebem nenhuma melhora,  ou a notam de maneira inicial, com retorno dos sintomas após um tempo (variável) de pós operatório.

Nos dois últimos casos, a investigação de outra causa base deve ser continuada com o reumatologista.

Devo desistir de colocar o implante?

A colocação do implante de silicone é a cirurgia mais realizada no Brasil, com alto índice de satisfação. Além disso, é amplamente usado na cirurgia reparadora, em reconstruções de mama , após a retirada de um câncer local. Já com relação às próteses, elas têm sido utilizadas por mais de 60 anos e são os dispositivos médicos mais estudados no mundo. Associado a esses fatores, a Síndrome ASIA é de baixa incidência, mesmo em pacientes com fatores de risco.

A decisão da mamoplastia de aumento deve ser tomada pela paciente (devidamente informada) em conjunto com seu cirurgião plástico (capacitado e inscrito na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) – verifique se seu médico é membro aqui .

Em caso de recusa do uso de implante pela paciente, alternativas como lipoenxertia e mastopexia são opções para a melhora do aspecto das mamas, mas é importante salientar que cirurgias diferentes apresentam resultados diferentes, tanto em volume, quanto em formato ou projeção do cone mamário.

Fontes: Miranda RA. O explante em bloco de prótese mamária de silicone na qualidade de vida e evolução dos sintomas da síndrome ASIA. Rev. Bras. Cir. Plást. 2020;35(4):427-431

            Revista Veja. Disponível em https://vejasp.abril.com.br/saude/explante-silicone/amp/

            Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Nota de Esclarecimento. Disponível em http://www2.cirurgiaplastica.org.br/2021/02/03/nota-de-esclarecimento-4/

Este texto é de autoria da Dra. Marcela Benetti Scarpa e toda e qualquer forma de reprodução e/ou veiculação somente será permitida mediante prévia autorização por escrito e com indicação de fonte, do contrário, poderá consistir em violação de direitos autorais, conforme a Lei 9.610/98, passível da adoção das medidas cíveis e criminais pertinentes. Para mais informações, acessem nossa Política de Proteção aos Direitos Autorais.

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