A cada dia mais conectados, as interações nas redes sociais já se tornaram essenciais no dia-a-dia das pessoas ao nosso redor.
Segundo dados do relatório Digital in 2017 promovido pelo site We Are Social, um usuário brasileiro passa em média 3h43min por dia on line em redes sociais. Ficamos em segundo lugar no ranking analisado, atrás apenas das Filipinas. Ainda no Brasil, durante o ano passado, foram 19 milhões de novos usuários para essas redes, o que significa aproximadamente 10% da população do país.
Essa tendência exponencial tem mostrado o quanto gostamos de interagir virtualmente e o quão influenciador podem ser os conteúdos aos quais estamos expostos diariamente.
Visto isso, conseguimos identificar muitas mudanças no comportamento relacionadas à decisão de prosseguir com uma determinada ação, ou de reconhecer a necessidade de algo que não fora anteriormente observada.
Crystal, jovem americana cujo descontentamento com a aparência nas selfies enviadas ao amigos provocava grande angústia, disse em entrevista à rede britânica de televisão BBC: “Não conseguia parar de olhar como o filtro do Snapchat mudava o meu rosto”,
“Ele definia meu queixo, delineava as maçãs do rosto e deixava meu nariz mais reto, o que sempre me fazia sentir um pouco insegura”, disse a assistente médica de 26 anos, de San Diego – Califórnia/EUA.
Na foto acima podemos ver Crystal. Afirmava conseguir um aspecto parecido ao do filtro usando maquiagem. A rotina tornava-se um verdadeiro desafio, já que era difícil conseguir tempo e produtos suficientes para se maquiar todos os dias e chegar ao mesmo resultado.
Para conseguir de fato o rosto parecido com a versão que via utilizando o Snapchat, ela decidiu procurar por ajuda médica profissional, e decidiu fazer preenchimentos no nariz e abaixo dos olhos.
Muito satisfeita, Crystal não esconde sua felicidade em ter, finalmente, o contorno facial que tanto almejou:
“As pessoas não percebem que eu me submeti a um procedimento. Elas pensam que eu perdi peso ou algo do tipo”, disse Crystal, que passou a compartilhar suas selfies sem filtros.
Esse é mais um caso do número crescente de pacientes que buscam procedimentos estéticos para ficarem mais parecidos com as fotos que compartilham nas redes sociais.
De acordo com um estudo recente da Academia Americana de Cirurgia Facial, Plástica e Reconstrutiva, em 2017, 55% dos cirurgiões plásticos faciais atenderam pacientes que desejavam parecer mais esteticamente agradáveis nas redes sociais. É um grande aumento quando comparado com o ano de 2013, em que foram identificados apenas 13%.
O estudo também observou que 56% dos cirurgiões pesquisados perceberam um aumento no número de clientes com idade inferior a 30 anos.
As fotos das redes sociais oferecem às pessoas uma nova perspectiva sobre si mesmas, de como elas parecem aos olhos dos demais, exibindo partes desagradáveis no corpo que, de outra forma, não seriam notadas no espelho.
Dr. Adam Schaffner, cirurgião plástico em Nova York, disse durante uma entrevista ao site Betabeat.com: “Muitos pacientes dizem: eu não gosto do jeito que pareço quando estou falando em vídeo. Pareço cheio e pesado. Eu me vi no espelho, mas só percebi quando me vi no Facebook ou no meu IPhone”.
Para ele a explicação revela uma nova forma de se auto analisar:
“Quando você se olha no espelho, você observa uma imagem espelhada de si mesmo. Mas quando se vê nas redes sociais, está se vendo da maneira como o mundo o enxerga”.
Esse novo comportamento pode ser considerado um progresso nos consultórios médicos. Há algum tempo atrás, os pacientes chegavam às clínicas de cirurgia plástica levando fotos de celebridades com as quais gostariam de parecer. Hoje em dia, estão levando fotos de si mesmos. “É um avanço”, afirma o cirurgião David Mabrie, de São Francisco/EUA, médico responsável pelo tratamento de Crystal.
Muitos profissionais preferem desenvolver a linha de trabalho tendo como base a foto da própria pessoa. “Assim, não se tem uma expectativa pouco realista de que, como em um passe de mágica, a paciente irá se transformar na Kylie Jenner, por exemplo”, acrescentou Mabrie.
No entanto, alguns pedidos continuam impossíveis de se atender:
“Alguns filtros aumentam o tamanho dos olhos, algo que não pode ser feito cirurgicamente”, diz ele.
De acordo com o médico britânico Tijion Esho, que atende em muitas clínicas estéticas no Reino Unido:
“Agora vemos fotos de nós mesmos diariamente nas plataformas sociais que usamos, algo que pode nos tornar mais críticos de nós mesmos”.
Ele diz já ter recusado atender pacientes que se mostravam demasiadamente obcecados em parecer com suas fotos no filtro. Completa dizendo:
“As fotos são boas como referência, o problema é quando elas se tornam mais do que isso: transformam-se em como os pacientes veem a si mesmos, ou quando querem se ver exatamente como nessas imagens. Isso não é apenas pouco realista, mas potencialmente um sintoma de outros problemas subjacentes”, opina o cirurgião.
Por isso, é importantíssimo consultar-se com um profissional devidamente capacitado, para que o paciente conscientemente conheça o alcance do tratamento e, de forma realista, compreenda o resultado.
Também é importante que as pessoas não sejam tão auto críticas a ponto de começarem a notar pequenos traços em suas formas como defeitos, ou passíveis de correção. Cada indivíduo é único, e as diferenças nos fazem assim.