Dra. Marcela Scarpa

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Bob Marley e o Melanoma Acral

O conteúdo descrito abaixo não tem como objetivo substituir a consulta médica, tem caráter informativo destinado aos indivíduos que tenham algum interesse em Cirurgia Plástica. Procure sempre um Cirurgião Plástico habilitado e devidamente registrado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (http://www.cirurgiaplastica.org.br) e no Conselho Regional de Medicina de seu Estado (CRM).

Hoje, 11 de maio de 2018, completam-se 37 anos que o músico e compositor jamaicano Bob Marley deixou milhares de fãs inconsoláveis com sua partida precoce, em 1981.  Ele foi diagnosticado com um câncer de pele extremamente grave, o melanoma acral maligno.

Enquanto a maioria dos melanomas tem como causa principal a exposição à radiação ultravioleta (UV) solar, este tipo desenvolve-se independentemente desta condição. Ocorre em regiões como plantas dos pés (mais comum), palmas das mãos ou abaixo das unhas. Suas causas mais prováveis originam-se de fatores genéticos, apesar de não serem conhecidos fatores de riscos específicos para seu desenvolvimento. Ocorre predominantemente em idosos, com idade média de 60 anos.

É muitas vezes confundido com lesões benignas, como uma simples micose ou até mesmo um hematoma. Geralmente tem início com uma mancha irregular, castanha clara ou até preta. O subtipo amelanótico (sem cor) é o de diagnóstico mais difícil.

Por este motivo, Bob Marley não se preocupou quando uma mancha escura apareceu sob sua unha do pé, atribuindo seu desenvolvimento a uma lesão local recente simples, consequente a um “machucado” durante uma partida de futebol.

Embora esta forma de melanoma seja rara, é um dos subtipos mais comuns em pessoas de pele mais escura. Normalmente tem comportamento mais agressivo devido sua detecção tardia.

Em 1980, Bob recebeu o diagnóstico e foi aconselhado pelos médicos à  realizar a amputação do dedo. A conduta foi imediatamente recusada, pois contrariava os princípios de sua filosofia rastafári , além da preocupação em ter os movimentos de sua dança prejudicados, num momento em que vivenciava o auge de sua carreira.

Devido à sua escolha, o melanoma acral do cantor jamaicano evoluiu e sofreu metástases, acometendo seu cérebro, pulmão e estômago.

Ele lutou durante 8 meses contra a doença, buscando tratamentos alternativos como os do médico naturalista alemão Dr. Joseph IsselsBob Marley faleceu aos 36 anos, durante uma viagem de regresso à Jamaica.

O Melanoma

Atualmente os avanços tecnológicos nos tratamentos dos tipos de melanoma poderiam ter poupado ou prolongado a vida de Bob Marley.

Suas variantes cutâneas incluem:

  • Melanoma Extensivo Superficial: tipo mais comum e menos agressivo de melanoma.
  • Melanoma Nodular: tipo mais agressivo.
  • Melanoma Lentigo Maligno: mais comum em áreas expostas ao sol e mais prevalente em idosos.
  • Melanoma Lentiginoso Acral: o tipo mais raro e que acometeu Bob Marley

O INCA (Instituo Nacional de Câncer) estimou quase 6 mil novos casos de melanoma no Brasil em 2016.

Todas essas formas de tumores originam-se dos melanócitos (células produtoras de melanina), que proporcionam cor à pele e ao cabelo, protegendo-os dos raios UV.

Embora suas origens biológicas sejam as mesmas, existem fundamentais diferenças entre seus subtipos, afetando a maneira como crescem, sua disseminação e até mesmo a forma como respondem ao tratamento.

Pesquisas contra o câncer

Pesquisadores do Centro de Pesquisa do Câncer de Manchester, no Reino Unido, divulgaram em 2014 em seu website, uma pesquisa genética liderada pelo Professor Richard Marais.

Eles contaram com avançadas técnicas de análise e sequenciamento de DNA, que facilitaram a compreensão de muitos tipos de câncer. Foi possível “ler” toda a informação genética dentro das células de um tumor (em seu genoma) em questão de dias, revelando o catálogo de falhas genéticas que carregavam.

Em um artigo publicado na revista Cellment Cell & Melanoma Research em 2014, o professor Marais e sua equipe analisaram detalhadamente amostras dos genomas de melanoma acral de 8 pacientes e compararam com dados de 5 melanomas mucosos, 12 uveais e 25 melanomas cutâneos.

Sua análise revelou que o padrão de falhas genéticas do melanoma acral são bastante diferentes das dos outros tipos de câncer de pele.

Apesar disso, ao examinar genes específicos, os pesquisadores verificaram que essas distorções nos melanomas acrais levaram à mutações em vários outros genes, também implicados como risco para outros tipos de câncer. Dentre eles estão os genes denominados BRAF e KIT, já conhecidos por causar alterações no melanoma cutâneo.

A equipe também identificou uma seleção de outros genes defeituosos como, P53, PTEN, NRAS e APC – todos bem conhecidos por fazer com que as células cresçam sem controle, levando ao câncer.

O que torna esses tumores tão distintos?

Sabe-se já há alguns anos, que os tumores de pele carregam sinais característicos de danos em seu DNA, provenientes da exposição a raios ultravioleta (UV). No entanto, mesmo tendo encontrado esse tipo de evidência em amostras anteriores, o estudo do professor Marais não concluiu esta alteração nas atuais formas de melanoma acral analisadas.

Isso pode sugerir que, embora a exposição ao raios UV possa desempenhar um papel importante nos melanomas acrais de alguns pacientes, não é um fator determinante.

O outro achado interessante de sua análise é que os melanomas acrais e de mucosa parecem ser amplamente semelhantes quando se trata da quantidade e do tipo de dano genético .

Compreender as falhas genéticas individuais que determinam diferentes formas e subtipos de câncer parece fundamental para a determinação eficaz do tipo de tratamento a ser indicado, principalmente nos quadros mais agressivos da doença.

Conforme as pesquisas avançam, descobre-se que as complexidades genéticas do câncer podem variar em diferentes regiões do corpo de um mesmo paciente, e até mesmo dentro do mesmo tumor. Essas falhas genéticas podem, inclusive, mudar e evoluir à medida que a doença progride, ajudando a desenvolver resistência ao tratamento.

Existe um campo imenso a ser explorado no diagnóstico e tratamento do câncer, principalmente na área de terapias geneticamente direcionadas para melhorar a taxa de sobrevivência, além do desafio político e econômico de tornar os custos dos medicamentos acessíveis.

Em todo o mundo existem pacientes ansiosos esperando por opções de tratamentos mais eficazes e que ofereçam maiores chances de cura. Por isso é tão importante que esses avanços continuem acontecendo e movimentando a ciência.

Saiba mais sobre os tipos de melanoma, a maneira como manifestam-se e como identifica-los nessa matéria.

Se você estiver com mais dúvidas ou quiser saber mais sobre isso, procure ajuda profissional médica.

Fontes:
https://goo.gl/zLwLku
https://goo.gl/n1vtpv

Este texto é de autoria da Dra. Marcela Benetti Scarpa e toda e qualquer forma de reprodução e/ou veiculação somente será permitida mediante prévia autorização por escrito e com indicação de fonte, do contrário, poderá consistir em violação de direitos autorais, conforme a Lei 9.610/98, passível da adoção das medidas cíveis e criminais pertinentes. Para mais informações, acessem nossa Política de Proteção aos Direitos Autorais.

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