Embora a saúde seja a preocupação inicial de qualquer paciente, ela não é a única. Um questionamento comum ao ser submetido a qualquer procedimento cirúrgico é a sua cicatriz final.
O que muitos não sabem, no entanto, é que não são só os medicamentos e as recomendações prescritas pelo médico que podem ser úteis. A alimentação é um importante aliado nessa hora. Ela pode tanto auxiliar quanto prejudicar o processo de cicatrização.
De forma geral, opte pelos mais ricos em nutrientes e evite ao máximo os industrializados.
Alimentos que favorecem a cicatrização
Segundo médicos e nutricionistas, alguns alimentos são especialmente importantes antes e após a realização de uma cirurgia. Podem ser úteis, aliás, até mesmo depois de um corte simples em casa.
As frutas cítricas são ricas em betacaroteno, com ação antioxidante, e vitamina C, que contribuem para a formação das fibras colágenas – uma proteína importante na regeneração do tecido. Sua ausência favorece hemorragia e ruptura cicatricial. Aposte em pêssego, laranja, limão, caju, tagerina, ameixa, abacaxi e acerola, por exemplo.
As frutas vermelhas contêm flavonóides, com ação protetora das paredes de vasos sanguíneos, combatendo o processo inflamatório. Além disso, morango, cereja e amora possuem antioxidante natural no combate à infecção e manutenção da elasticidade da pele.
É também indicada a ingestão de peixes que contenham ômega 3, como o salmão, o atum e a sardinha. Farinha de linhaça e semente de chia também são ricos nesse nutriente. Ele ajuda a modular a inflamação e estimula a reposta imunológica.
Alimentos com altas doses de zinco, por fim, também são aliados neste momento, de acordo com Bernardo Hochman, que é professor da Universidade de São Paulo (USP). O médico afirma que a relação entre maiores níveis de zinco e boa cicatrização já está demonstrada por estudos científicos. Os vegetais de folhas verde-escuras (beterraba, berinjela), os peixes, as castanhas, as nozes e as carnes contêm este elemento.
Outros nutrientes como vitamina A, B, cobre e ferro são também necessários e cofatores da cicatrização. Invista em manga, cenoura, ovo, agrião, salmão, leite.
Com relação às carnes vermelhas, aliás, vale dizer que devem ser preferidas as mais magras, como alcatra, coxão mole e filé-mignon, por exemplo. As mais gordurosas possuem níveis mais altos de gorduras saturadas e devem ser evitadas.
Alimentos que atrapalham a cicatrização
Se existem alimentos que auxiliam no processo de cicatrização, também há aqueles que atrapalham.
Um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ofereceu uma dieta equilibrada a 40 cobaias, com boas porções de proteínas, gorduras e carboidratos. Uma parte delas recebeu uma porção extra de camarão. Após, foi realizado uma incisão de 4 centímetros no tórax.
O resultado foi bem explícito. Após cinco dias de pós operatório, nos ratos do grupo que comeu o camarão, a cicatriz se rompia com maior facilidade. Entretanto, na análise final da cicatrização, percebeu Elizabeth Borges , professora do Departamento de Fisiologia e Biofísica da UFMG. Porém, no 21º dia, quando a cicatrização estava concluída, não houve diferença de resultado entre os grupos.
A explicação dos especialistas é que o exoesqueleto do crustáceo é rico em um polissacarídeo (quitosana) que, em princípio, contribui para cicatrização e estímulo do colágeno. Porém, ele também tem efeito inflamatório na pele, acarretando em uma reação exagerada do organismo, favorecendo a formação de queloide.
Além do camarão, contudo, há outros alimentos que não são bem-vindos neste momento. Um bom exemplo são os que contêm altas doses de gorduras trans – sorvetes, salgadinhos, congelados, etc. Somado a esse malefício, as altas doses de sódio que eles contêm também levam ao edema (inchaço).
Entre as gorduras saturadas, como já foi dito, existe um grupo que deve ser levado à mesa – o das carnes magras.
Por outro lado, os alimentos embutidos e as carnes vermelhas gordas devem ser evitadas. Carne bovina e gordurosas tem alto potencial inflamatório, produzindo efeitos deletérios na lesão.
Embutidos como salsicha, bacon, presunto, linguiça, peito de peru, mortadela, entre outros. Sua produção envolve fermentação ou adição de sal, podendo ser defumados ou curados. Por esse motivo tem altas quantidades de sódio e gordura trans, que favorecem a retenção de líquidos, acúmulo de toxinas. Consequentemente agravam a inflamação local.
Leguminosas como lentilha, grão-de-bico e feijão são excelentes fontes de proteínas e fibras, desejáveis durante a recuperação pós operatória. A soja, entretanto, é uma exceção ao grupo. Esta é rica em isoflavonas, componente que estimula inflamação tecidual.
Pimentas em geral possuem capsaicina, composto que é favorável para artérias e veias, mas agressivos para pele.
Em conclusão, quando se está programando um procedimento cirúrgico, algumas medidas alimentares podem ser úteis para ajudar no processo pós-operatório, em particular na cicatrização. Porém, mais do que qualquer regra específica ou ditadura, o melhor é sempre o bom senso e uma dieta equilibrada e variada.